Bem Vindos ao Meu Caldeirão !!!

EU SOU!!!
Sou a magia elemental contida neste corpo causal
Sou forma feminina condensada em partículas de pura emoção
Sou a essência mais antiga que o próprio pensamento
Sou inspiração, que chega de leve como a brisa do verão
Sou o ar que alimenta o fogo animal da mais louca paixão
Sou rainha de mim mesma, muito além das brumas do tempo
Sou o brilho dos olhos refletido no êxtase deste olhar
Sou chuva que refresca a terra árida e sem esperança
Sou o pensamento dos sentimentos sem razão
Sou energia que ascende além da forma

Sou o vapor da água cristalina, carregada pelas nuvens do céu
Sou tudo e não sou nada, pois me achei neste exato momento!!!

Paty Witch Maeve


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mitologia Chinesa


Quanto à mitologia de todo este vasto território do continente asiático, pode constatar-se que, realmente, talvez seja uma cópia da própria organização hierarquizada da sociedade chinesa, pois assim como havia um governante máximo à frente de cada dinastia, também devia adorar-se um deus único e supremo, o qual recebia, ao mesmo tempo, obediência e reverência por parte das outras deidades. Alguns dos seus chefes religiosos foram considerados, entre a legendária população chinesa, como seres imortais ou encarnações da denominada "Origem Primeira", deidade que fazia parte de uma trindade de deuses com poderes para vencer o mal e os seus representantes. No entanto, o panteão chinês conta com uma grande variedade de deuses. E até os fundadores de grandes movimentos religiosos tiveram em conta o ancestral -rico e variado- de todos os estados feudais assentados em território chinês, para confeccionar os seus dogmas e assertos. A povoação agradeceu, na prática, este detalhe dos seus iluminados, pois elevou à categoria de mito tanto o autor como a sua obra. Deste modo, arraigará entre a população o mítico conceito denominado "tan", cujo simbolismo é tão rico que ultrapassa a sua origem primigénia; "tan" significa "caminho", "via". É um princípio guiador de tudo quanto existe e do universo inteiro. Pelo "tan" há verdade, e sabedoria, e harmonia. Sucede a mesma coisa com a introdução da moral como único aspecto regulador de qualquer relação social, quer seja pública ou privada, que deveria desembocar, por obrigação, numa ética do altruísmo, do desprendimento, da solidariedade, do respeito e da tolerância entre os humanos. Tratar-se-ia de erradicar a beligerância, o ódio e as guerras e, ao mesmo tempo, substituí-los pelo amor universal e a paz. Há que acrescentar, além do mencionado, outros aspectos que completarão este panorama, real e mítico ao mesmo tempo. A população deste imenso território chinês também adorava os fenômenos da natureza, as suas forças desatadas; comemorava o espírito dos antepassados; acudia a consultar os oráculos e participava de um ritualismo rico em sacrifícios e esoterismo mágico. Muito especialmente, se pretendia uma longevidade perene -o mito da eterna juventude- que, mais tarde, aparecerá em todas as outras culturas e civilizações, especialmente na mitologia greco-latina. A verdade é que o povo chinês tinha um deus especialmente dedicado a procurar juventude e viçosidade a todos os que lho rogassem e, por isso, lhe ofereceram contínuos sacrifícios e preces. Esta deidade chamava-se Cheu-Sing e era a encarregada de guardar a vida dos humanos, pois, entre outras coisas, tinha poder para fixar o dia em que tinha de morrer uma determinada pessoa. Mas, segundo a crença popular, se podia mudar a vontade deste deus oferecendo-lhe sacrifícios e participando nos diversos rituais na sua honra. Tudo isto indica que era possível estender os anos de vida, bastava que Cheu-Sing prolongasse a data que tinha marcado de antemão e, pelo mesmo motivo, ampliasse, assim, o tempo de vida daqueles mortais que mais fidelidade lhe tivessem demonstrado. No entanto, segundo as narrações mitológicas do povo chinês, há uma deidade superior, criadora do mundo e de tudo quanto existe, rei dos mortais e dos outros deuses. Recebe o nome genérico de "Venerável Celeste da Origem Primeira" e há já muito tempo -uma eternidade- que delegou todo o seu poder num dos seus discípulos e, ao mesmo tempo, segundo dos três deuses - denominados os "Três Puros"- que compõem a trindade chinesa. O nome deste deus, que realiza a pesada tarefa que lhe encomendou o seu mestre, é "Senhor do céu". E chegará um dia em que também ele deixará que o seu sucessor leve a cabo o trabalho de ordenar e governar o universo inteiro. Mas, por agora, é o último dos "Três Puros", e é um deus que se evoca pelo nome de "Venerável Celeste da Aurora". Para levar a cabo a ingente tarefa encomendada pelo primeiro dos deuses, o seu discípulo contava com a ajuda de outras deidades afins. Por exemplo, narra o relato mítico que o segundo dos deuses, isto é, o "Senhor do céu", delegava determinadas funções no "Segundo Senhor", um deus muito célebre e popular porque travava, a quem o invocava, os maus espíritos. Enviava contra estes o "Cão Celeste", que os perseguia com raiva e não permitia que assustassem os humanos. Também havia deusas de segunda ordem que tinham como missão predizer a possibilidade de casamentos estáveis. A elas acudiam muitos jovens para consultá-las acerca das qualidades do seu futuro marido e também sobre a conveniência ou não de casar-se. O anterior não faz senão avaliar a teoria defendida por quase todos os investigadores da mitologia. Estes, com respeito às lendas chinesas, afirmam que o imanente e o transcendente são uma mesma coisa, dado que, realmente, a organização entre os deuses é similar à estrutura da sociedade dos humanos. Aqueles se servem de outros mais inferiores para levar a cabo as suas tarefas mais custosas; sucede a mesma coisa entre os mortais, pois os governantes se servem de subordinados -ministros, funcionários, etc.- para levar a cabo as suas realizações em pró do bem geral do seu povo. Tanto os deuses como os governantes devem procurar o bem material e moral dos humanos, pois, caso contrário, o universo e o mundo albergariam unicamente ruindade e desgraça. Portanto, segundo explicam as narrações dos mitos chineses, a atenção e a própria existência dos deuses e dos governantes são absolutamente necessárias. Mas os governantes têm que demonstrar sabedoria em todos os seus atos. E os deuses devem cumprir com diligência a missão que lhes foi encomendada pelos seus mestres ou pelos deuses superiores. E, assim, existiam deidades que se encarregavam de apontar as boas e más ações dos humanos e, ao mesmo tempo, deviam procurar levar ao mundo dos mortais a maior felicidade possível. A encomenda de distribuir paz, felicidade e alegria entre os humanos era uma tarefa invejável que nenhuma deidade eludia. Outros muitos deuses menores ajudavam a deidade superior "Deus do céu"; era o seu dever e a sua única função. Deste modo, o paralelismo com a estrutura da sociedade humana era uma realidade tangível, pois estes deuses inferiores cumpriam os mandatos da deidade que estava por cima deles e esta, por sua vez, devia obediência à seguinte de grau superior. Assim até chegar ao mais poderoso de todos, por cima do qual ainda existia outro deus que tinha delegado nele as suas funções -a pesada carga de governar- mas que, não obstante, continuava sendo o mais poderoso de todos os deuses do panteão chinês. O mundo mitológico, portanto, tinha sido construído de acordo com os mesmos critérios usados nas próprias sociedades humanas. Aqui, o soberano -que tinha por cima dele os deuses- organizava o seu território e publicava as suas leis com a ajuda -com certeza, obrigatória- dos seus súditos, que se encontravam perfeitamente organizados por categorias e deviam cumprir fielmente os mandatos dos seus superiores. Portanto, humanos e deuses se organizavam sob uma estrutura similar; daqui que, segundo a mitologia chinesa, até as mais fúteis funções se encontravam encomendadas a uma deidade. Por exemplo, quando os cidadãos tinham cometido faltas graves contra os seus congêneres, ou contra os deuses da sua tribo, deviam elevar súplicas à deidade que perdoava os pecados e que conferia, de novo, a paz de espírito aos que já tinham sido purificados. A população da ancestral China chamava Ti-kuan ao deus que perdoava os pecados e, segundo a crença popular, era o "Agente da Terra" que formava tríade com outros dois deuses; o "Agente do céu" e o "Agente da água". Todos os desejos, e necessidades, dos humanos ficavam satisfeitos assim que estes invocavam o deus apropriado. Por tudo isso, o número de deuses familiares era considerável. Mas não só cada casa, mas também os bairros, circunscrições, povoações, cidades e territórios contavam com os seus deuses protetores. As próprias deidades se ocupavam de que tudo funcionasse perfeitamente; e assim os deuses do lugar guardavam a terra, a rua, a casa e todos os seus moradores. Em todos os lares havia uma imagem do "Deus do lar" que, geralmente, aparecia sob a figura de um ancião com barba branca. No desenho -impreciso e carregado de colorido aberrante- aparecia também uma mulher, que se venerava como esposa do "Deus do lar", rodeada de animais domésticos, tais como porcos, galinhas, cães, cavalos, etc., que cuidava e dava de comer. Nestes desenhos, que os chineses colocavam no interior das suas casas para adorar o verdadeiro espírito das figuras que lá apareciam, o artista tinha respeitado também a essência hierárquica da mitologia destes povos do longínquo oriente, pois a verdade é que, em qualquer caso, o "Deus do lar" permanecia sempre sentado e relaxado sobre um colorido trono. Em compensação, a mulher estava em pé, preocupando-se dos labores domésticos, neste caso do cuidado dos animais que havia em casa. Isto indica que o "Deus do lar" tinha subalternos, por assim dizer, nos quais delegava a sua própria função de cuidar pessoas e fazendas. A mitologia chinesa conta com um lugar de perdição, similar ao que entre os greco-latinos se denominará Tártaro, Hades ou Inferno. Segundo a tradição popular chinesa, a alma dos mortais é conduzida a esse lugar de perdição para ser julgada e, como no mito clássico aparece o feroz cão Cerbero custodiando as gigantescas portas do Tártaro, também aqui há um encarregado de controlar a passagem para o interior de tão tétrico lugar: o "Deus da Porta". Se tudo estivesse em regra, a alma podia passar e toparia imediatamente com o deus de "Muros e Fossas", que era o encarregado de submetê-la ao primeiro, e mais benigno, dos julgamentos. No entanto, os interrogatórios duravam perto de cinqüenta dias -exatamente quarenta e nove, que era um número pleno de conotações simbólicas entre muitos povos do extremo oriente: "Este é o prazo de que necessita a alma de um morto para alcançar definitivamente a sua nova morada. É a terminação da viagem", durante os quais a alma permanecia retida nos domínios do deus de "Muros e Fossas". Este pode condená-la ou deixá-la em mãos do seguinte juiz. Se acontece o primeiro, a alma pode ser açoitada ou atada pelas suas extremidades superiores a uma tábua que a aprisiona o pescoço. De qualquer maneira, a alma terá que passar, agora, à presença do "Rei Yama", que se encarregará de decidir, após um novo interrogatório, se aquela é uma alma justa ou um alma pecadora. Se for o primeiro, a alma será enviada para um dos paraísos chineses -o que se encontra na "Grande montanha" ou o denominado, de maneira pomposa, a "Terra da Extrema Felicidade de Ocidente", onde gozará de liberdade e felicidade eterna-, dado que aqui tudo se encontra embebido da presença do Buda. Se, pelo contrário, o "Rei Yama" sentenciou que se trata de uma alma pecadora então esta será arrojada para o abismo dos infernos para que lá purgue as suas culpas. Depois de sofrer dores e castigos sem fim, a alma chegará, por fim, ao décimo lugar de perdição. Uma vez aqui será obrigada a reencarnar-se e poderá escolher entre um animal ou um humano. Se se reencarnar num animal, nem por isso perderá o seu antigo sentir humano e, pelo mesmo motivo, sofrerá quando a maltratem ou quando a matem. Por exemplo, pôde escolher renascer como porco e, portanto, não durará muito sem ser sacrificado, em cujo caso a dor do animal é a mesma que sentiria o humano ao qual pertencia a alma antes de reencarnar-se. No entanto, ninguém reparará nisso pois o porco não poderá exprimir a sua dor e o seu sofrimento, de forma humana, dado que a alma reencarnada, antes de sair do décimo Inferno e dirigir-se para o lugar onde se encontra a "Roda das Migrações", deve beber o "Caldo do Esquecimento" para, assim, guardar segredo obrigatório -pois nada do passado poderá já então recordar- de tudo quanto lhe aconteceu na sua digressão infernal. Esta beberagem, segundo a lenda dos povos do longínquo oriente, era preparada pela deusa que habitava na misteriosa casa edificada à saída do Inferno. Todas as almas que abandonassem aquele lugar de perdição tinham que beber o "Caldo do Esquecimento" pois só então lhes seria permitido continuar para a frente e chegar à "Roda das Migrações", para assim consolidar a sua reencarnação. Algumas versões explicam, não obstante, que as almas dos mortos, antes de chegarem à presença do deus de "Muros e Fossas", recebiam a ajuda de Abida, deidade que tinha encomendada a tarefa de aliviar a todos os humanos à hora da morte, pois acolhia as almas puras e purificava as impuras. Também se diz que o Tártaro era um lugar de perdição, sim, mas constituído por cidades cheias de funcionários e também de vários edifícios que eram como sedes dos diferentes tribunais perante os quais tinham que comparecer as almas dos mortos para serem julgadas. O próprio palácio do Rei Yama encontrava-se numa das cidades principais do mundo infernal e, ao lado deste soberbo -e, ao mesmo tempo, tétrico edifício- se levantavam as diversas edificações que albergavam no seu interior as terríveis câmaras de tortura e suplício. Esta mítica cidade chamava-se Fong-tu e tinha uma entrada principal, denominada "Porta do Mal"; no extremo oposto, ficava protegida e resguardada por um pustulento rio -posteriormente, também entre os mitos greco-latinos aparecerá o rio Aqueronte, cujas turvas, lodosas e fedorentas águas, rodearão o lugar de perdição chamado Tártaro, que contava com três pontes, as quais constituíam outros tantos acessos a Fong-tu, embora pelo lado contrário desse para a zona principal. A primeira ponte estava construída em ouro maciço e só os deuses podiam atravessá-la. A segunda ponte era de prata e estava reservado às almas que tinham sido justas. A terceira ponte era muito mais comprida e estreita do que as anteriores e atravessá-la resultava perigoso, pois carecia de corrimões para se agarrar. As almas que tinham sido perversas e viciosas estavam obrigadas a atravessá-la e, se caíssem no fedorento rio, seriam imediatamente trituradas por monstros que tomavam a aparência de serpentes de bronze e de raivosos cães de ferro. A mitologia dos povos do longínquo oriente contava, também, com lugares de felicidade e de dita, isto é, com paraísos. Como já se indicou, o da "Grande Montanha" era um deles. O outro era a "Terra da Extrema Felicidade de Ocidente", e, geralmente, era o lugar escolhido por "Rei Yama" para enviar aquelas almas dos mortais que tinha encontrado inocentes e que, pelo mesmo motivo, considerava justas. O primeiro dos paraísos estava habitado pela "Dama Rainha" (a quem a tradição mítica fazia esposa do poderoso "Senhor do céu" que, no cimo da montanha mais alta, tinha construído o seu grandioso palácio; este era um edifício fabuloso -contava com mais de nove andares-, rodeado de jardins com plantas e flores aromáticas e permanentemente verde. Aqui crescia, oculto num lugar recôndito, a mítica "Árvore da Imortalidade"; dos seus frutos se alimentavam os bem-aventurados, isto é, aqueles que tinham levado uma vida reta e justa e que, portanto, não tinham enganado nem maltratado nenhum dos seus semelhantes. Por tudo isso lhes era permitido conviver com as deidades denominadas "Imortais". Era muito comum, entre as altas esferas da sociedade chinesa, tais como os seus monarcas e classes poderosas, dar culto -nos inícios da primavera e da estação outonal- ao Céu, à Terra, ao Deus da Guerra e ao grande mestre Confúcio. Também as duas luminárias eram objeto de adoração entre a população do ancestral território do extremo oriente. Tanto o Sol como a Lua eram astros considerados como personificações de certas deidades. E não só os imperadores e a classe poderosa mas também o povo apoiava o culto às citadas luminárias; pelo qual a veneração à Lua e ao Sol ficava convertida, ao mesmo tempo, em culto oficial e popular. Eram ofereciam sacrifícios aos citados astros coincidindo com ano par ou ímpar. Os anos ímpares estavam consagrados ao Sol e os anos pares à Lua. Ambas as luminárias apareciam também relacionadas com os dois princípios essenciais. O Sol era princípio ativo e, portanto, era associado com o "Yang"; ao passo que a Lua era princípio passivo, pelo qual aparecia sempre relacionada com o "Yin". Para a população chinesa, estes dois princípios tinham uma importância capital. Se concebia a eternidade como um círculo que carecia de um princípio e que não tinha fim. O "Yang" e o "Yin" estavam dentro dela, como duas forças que se necessitam mutuamente e, pelo mesmo motivo, em vez de opor-se, se complementam. Na mitologia dos povos do extremo oriente, portanto, tudo se encontra estruturado com antecedência -não há lugar para improvisações e se rejeita qualquer tipo de intuição-, e classificado em itens que se sobrepõem, a maneira de arquivo, para dar lugar a emoções, paixões, tendências e necessidades. Outros mitos dos povos orientais - especialmente entre a população que seguia os ensinos de Buda, o "Iluminado"- explicavam que o Tártaro se encontrava num lugar escuro e subterrâneo e, segundo a crença popular, tinha umas características bastante contraditórias. Havia oito infernos de fogo e outros oito de gelo. E ambos produziam nos condenados torturas pelo calor ou torturas pelo frio. No entanto, também existiam -distribuídos em cada um dos quatro pontos correspondentes aos infernos principais, tanto de fogo como de gelo- outros lugares de perdição inferiores que, em ocasiões, supriam os dezesseis principais. Contudo, não se sabia com certeza o sítio exato onde estes lugares de perdição iam surgir. Apareciam tanto -o que sempre sucedia de forma repentina- na profundidade de um vasto e verde vale como no pico de uma montanha; até uma árvore milenar podia converter-se subitamente em sede de um destes infernos inferiores. Às vezes surgiam no próprio espaço e o ar abrasava ou gelava os condenados. Por outro lado, todas as condutas estavam controladas pelos ajudantes e funcionários do "Juiz do Averno", que se sentava num trono duro encaixado entre duas estantes de pedra. Na da sua esquerda encontra-se o "Julgador que vê tudo"; é uma figura feminina que penetra com a sua vista no mais recôndito do pensamento daqueles que comparecem para serem julgados. À direita situa-se o "Julgador que cheira tudo"; trata-se de uma figura masculina que tem como função descobrir, com o seu fino olfato, qualquer ação injusta ou imoral que tenha cometido o mortal que comparece para ser julgado. Portanto, como se pode comprovar, não há escapatória possível para os condenados, dado que todas as suas ações foram "vistas e cheiradas". Embora, para reduzir a pena, estivesse permitido que os vivos intercedessem em favor dos condenados, o que requeria sempre uma atuação inteligente e um mestre budista como mediador. Toda a natureza, segundo a tradição popular, devia ser cuidada e mimada e resguardada, e preservada de qualquer mal, dado que através dela se manifestavam as diferentes deidades. Fenômenos naturais como o raio, o trovão, a chuva torrencial, o vento forte ..., deviam a sua aparição a uma deidade menor. E, assim, Yun-t Ong tinha a função de reunir as nuvens, depois de tê-las formado, e era invocado com certa freqüência como o "jovem deus que reúne as nuvens". Também contavam os povos do extremo oriente com a "Dama do céu Sereno", que tinha a missão de limpar todo o espaço, uma vez que a chuva parava. Se dizia que afastava as nuvens com o seu hálito purificador. Outra deidade, considerada como um agente celeste, era Tien-kuan, que se encarregava de levar ao mundo dos humanos a maior felicidade possível. Em ocasiões era associada com a "Mãe dos Relâmpagos" e, então, recebia o nome de Tien'mu. A lenda dos povos do extremo oriente explica que Tien'mu produzia o raio servindo-se de dois espelhos. Também o ruído ensurdecedor do trovão era produzido por uma deidade menor; recebia o nome de "Senhor do trovão" e, por isso, estava considerado como o amo e dono do ruído. Também se venerava, especialmente entre as classes poderosas, o deus da riqueza. Em quase todas as casas dos ricos havia não só um desenho com o nome do deus gravado em caracteres ideográficos, mas também uma efígie representativa da deidade. Deste modo, sempre o consideravam próximo deles e podiam dirigir-lhe as suas preces com assiduidade, na crença de que, assim, nunca se veriam reduzidas a sua fortuna e o seu patrimônio. O deus das riquezas era conhecido pelo nome de T'saichem; o seu poder era superior ao das outras muitas deidades similares e até tinha designados numerosos deuses para o servirem e levarem a cabo as tarefas que aquele considerasse mais duras e difíceis. Outro aspecto muito importante, que também estava regulado e protegido por uma deidade, era o estamento familiar com todas as suas implicações. A intimidade da família, e as relações pessoais entre todos os seus membros, ficavam a salvo de críticas adversas, proferidas por pessoas não integrantes do grupo familiar. De tudo isto se encarregava o deus T'sao-Wang e, em troca, recebia todos os dias o reconhecimento dos seus protegidos. Era freqüente, entre as famílias da população do extremo oriente, honrar o deus que se erigia em seu protetor, por meio de um ritual que consistia em queimar varetas de incenso, ao mesmo tempo que se invocava o nome do deus T'sao-Wang, duas vezes; uma quando começava o dia e outra ao anoitecer. Cada profissão, ofício e trabalho, tinham a sua deidade protetora. Entre todos estes deuses, a tradição popular destacava o deus das letras e da literatura, ao qual se atribuía uma obra de conteúdo simbólico e emblemático. Era conhecido pelo nome de Wen-t'chang e, segundo a lenda, antes de chegar a obter a distinção de protetor das letras e da literatura já tinha passado por dezessete existências; o dezessete estava concebido, entre os orientais, como um número repleto de significação mágica e esotérica. O livro que tinha escrito o próprio deus era, por assim dizer, uma espécie de biografia e nele se indicava o dado das dezessete reencarnações, ou novos nascimentos. Também se davam pautas a seguir para agir com moralidade e retidão e, geralmente, se louvava o saber e a inteligência sobre quaisquer outros aspectos. Segundo a mitologia dos povos do extremo Oriente, a interpretação dos caracteres ideográficos do livro escrito pelo deus Wen't-chang leva a considerar à sabedoria por cima de quaisquer outros aspectos. Mediante o saber e a inteligência se pode superar qualquer obstáculo e, ao mesmo tempo, equilibrar qualquer sofrimento. A sabedoria, segundo explica na sua obra o deus das letras e da literatura, é como uma espécie de "Candeeiro da câmara escura", o que significa que até nos momentos mais difíceis da vida, quando vemos tudo negro, quando nos achamos encerrados na "Câmara escura" deste mundo dos mortais, sempre existirá a luz do "Candeeiro" que proporciona o saber e a inteligência para, assim, tornar possível uma nova procura, uma solução inédita. Outro dos deuses principais que a população oriental venerava recebia o nome de Fo. Este era um deus superior aos anteriores, pois ocupava o primeiro lugar entre as outras deidades que compunham a tríade da Felicidade. A sua importância, dentro da mitologia chinesa, era acrescentada porque representava, ao mesmo tempo, a Hierarquia, a Fortuna e a Honra. A ele acudia quem sentia o peso de um destino e um azar adversos; também os governantes solicitavam de Fo que os guiasse no momento de legislar, para que nenhuma norma injusta saísse da sua cabeça nem fosse permitida no seu reino. Era solicitado, além disso, por todos aqueles que tinham sido objeto de escárnio e desonra, mediante engano. Ao parecer -e segundo a crença popular-, Fo devolvia-lhes a sua honra perdida, pois por algo era um deus principal. O mito relativo a este deus poderoso nos fala do seu nascimento portentoso, da forma em que surgiu da costela direita da sua mãe que, segundo conta a lenda, tinha sonhado antes que um belo elefante branco a possuía.


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